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24/11/2016 - André Navarrete
Síndrome dos projetos malfeitos
Revista GoodPE n.6 Nov/2016
O que a ciclovia que desabou, no Rio de Janeiro, em abril, e os trens do metrô de São Paulo, estacionados em um pátio enquanto as linhas não ficam prontas, têm em comum? No Brasil, os projetos não atendem ao escopo, nem ao prazo, muito menos ao custo planejado. Os resultados estão à vista de todos, e não me refiro à corrupção, e sim à inadequação de propostas mal colocadas.
Na área da saúde, ambulâncias enferrujam, equipamentos sofisticados se deterioram e alas hospitalares inteiras, semiprontas, acumulam poeira, sem uso, enquanto cidadãos são atendidos no chão dos corredores, quando não têm a infelicidade de falecer em frente à instituição de saúde, por falta de atendimento.
Remédios vencidos são jogados fora, porque perdem a validade. São comprados sem análise adequada do histórico de utilização e da logística de distribuição e entrega.
A obra da Barragem Ingazeira, no Sertão pernambucano, que começou a ser estudada em 1981 (sim, há 35 anos!), e a ser construída em 1998 (há quase 20 anos) ainda não foi concluída. Por isso, cerca de 50 mil habitantes de Ingazeira, São José do Egito, Tabira e Tuparetama continuam recorrendo a carros-pipa e a poços artesianos.
Novamente, erros de escopo, prazo e custo, seguramente.
Poderíamos empilhar exemplos por este Brasil afora, pois, lamentavelmente, não faltam casos de desperdício do dinheiro público. Mais do que isso, de frustração das expectativas da população, principalmente a de mais baixa renda, que depende muito do impacto dos investimentos públicos.
Para piorar, muitas obras são concluídas com graves problemas de qualidade. Em maio, em torno de mil apartamentos recém-inaugurados do programa “Minha Casa, Minha Vida”, em um bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, tinham infiltrações no teto, nas paredes e no chão.
É óbvio que há excelentes profissionais em engenharia e construção no país, apto a fazer bons projetos e obras. Temos longo histórico nesta formação: em 1858, foi criada a Escola Central, no Rio, exclusivamente para a formação de engenheiros.
O país tem obras como a Ponte Rio-Niterói e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. E obras arquitetônicas renomadas, inclusive o Distrito Federal, com plano de Lúcio Costa e projetos de edifícios de Oscar Niemeyer.
Há, contudo, as que se arrastam, como a Transposição do Rio São Francisco, prometida para até 2013. Além do atraso, a construção dos canais foi recentemente estimada em R$ 9 bilhões, pelo menos 50% a mais do que o valor inicialmente previsto. Mais do que isso, as próprias autoridades admitem que não há como garantir que os canais e os projetos dos estados beneficiados (Alagoas, Ceará, Pernambuco e Paraíba) fiquem prontos ao mesmo tempo.
Escopo, prazo e custo!
*Consultor, presidente GGTI, vice-presidente da Sucesu-PE
Fonte:http://www.tinordeste.com/editorial/cio/sindrome-dos-projetos-malfeitos
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