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10/11/2016 - André Navarrete
Como evitar a ‘Trumperização’ da política
Jornal Folha de Pernambuco
A vitória de Donald Trump na eleição presidencial norte-americana surpreendeu e chateou boa parte do mundo. Nas redes sociais, uma das perguntas recorrentes nas últimas horas era: como o país mais rico do mundo elege alguém que prometeu construir um muro na fronteira com o México e que assumiu posições retrógradas, com declarações xenófobas e machistas?
O choque é ainda maior quando se considera que os Estados Unidos tiveram dois mandatos de Barack Obama, primeiro presidente negro daquela nação, com ideias mais arejadas e sintonizadas com a modernidade.
A conclusão é que Obama não foi eleito por suas incontáveis virtudes, e sim porque representava uma quebra de status quo. Os eleitores queriam romper com a ordem econômica, social e política. Deram um recado de que não estavam satisfeitos com a rotina de poder daquele país.
Agora, repetiram a dose, mas inversamente, votando em um empresário que ataca valores da globalização. Esse parece ser o alvo de boa parte dos eleitores de Trump: o mundo interligado, com integração econômica e intercâmbio social e comportamental.
Há uma ampla camada da população dos Estados Unidos – e de todos os demais países – que não sabe como (nem quer) participar do mundo digital e globalizado.
Para eles, é mais fácil apontar culpados – imigrantes, nações em desenvolvimento – do que se transformar. As pessoas têm sido muito mais exigidas e cobradas nos últimos anos. Temos de nos aperfeiçoar constantemente, falar vários idiomas, dominar a tecnologia, encontrar nichos profissionais para continuar no mercado, enfrentar quebras de paradigma quase que diários.
Tudo está em transição acentuada: clima, relações de trabalho, segmentos econômicos, relações interpessoais, meios de comunicação etc.
Há duas formas de se enfrentar esse tornado comportamental e tecnológico: evoluir e ser flexível, ou enfiar a cabeça na areia e votar em pessoas como Donald Trump. Há que entender que a combinação de maior longevidade e baixa natalidade torna indispensável receber imigrantes, além do fato óbvio de que somos todos seres de uma mesma família, vivendo em diversos pontos do planeta.
Temos desafios imensos à frente: reformar as estruturas públicas e privadas de saúde, de previdência e assistência social, de educação, moradia, transportes, segurança, recuperar e preservar o meio ambiente. No campo do trabalho, novas relações se impõem na marra, enquanto os políticos e sindicalistas demoram décadas para modificar a legislação arcaica.
Temos de dialogar e de encontrar saídas civilizadas e inovadoras para tais dilemas, ou nos preparar para a ‘Trumperização’ geral da política.
* Presidente do Optimize Group e do Grupo de Gestores de TI (GGTI); vice-presidente da Associação dos Usuários de Informática e Telecomunicações de Pernambuco (Sucesu)
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